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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Roda de Conversa - Tema: Projeto político Pedagógico - Parte 2

Roda de Conversa - Tema: Projeto político Pedagógico - Parte 1

Roda de Conversa - Tema: Projeto político Pedagógico - Parte 3

TEORIAS CURRICULARES


O que é teoria?

Uma teoria é considerada como um elemento que favorece o conhecimento de uma determinada realidade, em um certo espaço de tempo. É também apontada como um elemento que possibilita explicar um fragmento de uma realidade. Nesse sentido, uma teoria sistematiza e fundamenta decisões epistemológicas, uma vez que corresponde a um conjunto organizado de análises, interpretações e compreensões dos fenômenos. Nessa perspectiva, a função da teoria, no campo curricular, é a de explicar, descrever e compreender os fenômenos curriculares, resultando em uma diretriz que orienta as atividades práticas.
Sob esta ótica, a teoria curricular não representa uma perspectiva acabada e sólida dos fenômenos educacionais, pois o currículo é um produto histórico e social. Nesse contexto histórico e social, as principais teorias do currículo em que se baseiam as ideias que permeiam a organização curricular são:
·         As teorias tradicionais.
·         As teorias críticas.
·         As teorias pós-críticas.
Teorias tradicionais: contextualização e principais teóricos
Com o processo de industrialização no início do século XX, modernização das fábricas e, com a vinda dos imigrantes para os Estados Unidos da América, um novo modelo de homem, que tivesse habilidades para inserir-se nessa nova conjuntura social, era a pauta dos discursos governamentais.
Nesse novo contexto, a sociedade/sistema capitalista requer uma revisão dos modos como estava sendo processada a formação de seus cidadãos. Para se formar esse novo modelo de homem, medidas são propostas e atendidas pelos que discutem e fazem educação, no sentido do sistema educacional dar e favorecer essa base na formação dos cidadãos. Assim, normas e regras que direcionavam a formação desse novo perfil de cidadão eram discutidas, implementadas e veiculadas, tanto em livros como em publicações.

Portanto, é por meio dessas diretrizes curriculares que se propõe o modelo de sociedade e de cidadãos. Nesse escopo, as questões pertencentes à área curricular são o mote dos discursos, desmembrando-se nas denominadas teorias tradicionais.
Assim, as teorias tradicionais são discutidas, no campo do currículo, no ano de 1918, nos EUA, com o lançamento da obra The Curriculum, escrita por Franklin Bobbitt. Esse teórico teve um papel de suma relevância para o período, pois defendia a incorporação dos modelos de eficiência, baseados na administração científica, proposto por Taylor. Nessa época, as questões de cunho econômico, político e cultural procuravam adaptar os objetivos da educação de massa de acordo com os interesses do sistema capitalista.
Franklin Bobbitt defendia que as escolas deveriam funcionar como empresas, voltadas às questões da economia. Ele apontava um modelo de escola baseado no estabelecimento de objetivos, no sentido de desenvolver competências e habilidades do aluno, principalmente aquelas que facilitariam sua inserção no mundo do trabalho. Ele colocava, ainda, que a escola deveria estabelecer padrões de acordo com os da indústria, já que o aluno deveria passar por um processo de moldagem, saindo com o mesmo perfil de trabalhador.
Outro teórico, Ralph Tyler, em 1949, escreve o livro Princípios Básicos de Currículo e Ensino, traduzido no Brasil, na década de 1970. Ele amplia e reforça as idéias de Bobbitt, ao apontar que os objetivos do ensino devem ser muito bem definidos para atingir seu propósito.
Com essa ênfase, temos a incorporação dos verbos de ação para organizar o que vai ser ensinado. Tyler, também incorpora, em sua tese, as disciplinas acadêmicas e a psicologia. Nesse contexto, questões referentes à verificação do comportamento dos alunos fortalecem as teorias comportamentalistas. Nessa vertente, o currículo, veiculado nos meios educacionais, estava relacionado a uma lista de conteúdos que deveriam ser ministrados na escola.
Nesse momento, as teorias tradicionais do currículo apontam a importância das questões relacionadas aos conceitos pedagógicos de ensino e aprendizagem. Sua ênfase no ensino está pautada em favorecer aos alunos, futuros trabalhadores, a incorporação de habilidades básicas de ler, escrever e contar. O currículo é organizado com as disciplinas acadêmicas de cunho humanista, disciplinas científicas e também as habilidades práticas para ocupações profissionais.
Todo o discurso veiculado nas teorias tradicionais está respaldado no princípio da neutralidade e da cientificidade. O importante, nesse momento, era ensinar, independentemente da qualidade da aprendizagem adquirida. O homem, em tal contexto, é considerado a-histórico, uma vez que é concebido como reprodutor das informações advindas do currículo.
Considerando o caráter técnico da teoria tradicional, Kemmis (1988, p. 134) aponta que o currículo era caracterizado “[...] por um discurso científico, por uma organização burocrática e por uma acção tecnicista”.
Sob esta ótica, o currículo é visto como um produto, resultado de uma série de experiências de aprendizagens dos alunos, organizados pela escola, do ponto de vista técnico, previamente determinado e com o predomínio da lógica burocrática.
Referências
BOBBITT, Franklin. The curriculum. 3. ed. New York: Arno Press & The New York Times, 1918.
KEMMIS, Stephen. El curriculum: más allá de la teoría de lá reproducción. Madrid: Morata, 1988.
PACHECO, José Augusto. Currículo: teoria e práxis. Porto: Porto Editora, 2001.
TAYLOR, Frederick Wislow. Princípios de administração científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1990.
TYLER, Ralph W. Princípios básicos de currículo e ensino. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1975.

CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

As escolas são usadas para finalidades hegemônicas. Essas finalidades são visíveis quando, em seu espaço, realiza-se a transmissão de valores, tendências culturais e econômicas que, supostamente, são compartilhadas por todos. Nesse sentido, garante-se que um número de estudantes seja selecionado para os níveis mais elevados de ensino, em virtude de sua competência, contribuindo para a maximização da produção do conhecimento técnico, enquanto modelo de conhecimento exigido pela economia da sociedade capitalista.
Nesse contexto, a área do currículo desempenhou e desempenha um importante papel na reprodução das questões pertencentes aos atributos das relações econômicas existentes em uma sociedade, de modo que poder e controle econômico interviessem no poder e no controle cultural. Uma das funções tácitas da escolarização é a transmissão de diferentes valores e tendências para diferentes populações escolares. Nesse sentido, o conhecimento formal e informal, transmitido pela escola, precisa ser revisto e considerado como interligado, assim como as práticas educativas cotidianas devem ser relacionadas aos interesses econômicos, sociais e ideológicos. Portanto, a escola precisa ser revisitada para romper com a dimensão de que ela é a instituição fundamental que resolveria todos os problemas da cidade, do empobrecimento e da decadência moral das massas e, progressivamente, adaptaria os indivíduos a seus respectivos lugares em uma economia industrial. A ideologia, cultura e poder, dentro dessa nova visão, passam a fazer parte da construção do currículo. Nesse sentido, alguns conhecimentos são tidos como os mais legítimos e, portanto, considerados, no campo curricular, como conhecimento oficial. O currículo nunca é simplesmente uma montagem neutra de conhecimentos. Ele é produzido pelos conflitos, tensões e compromissos culturais, políticos e econômicos que organizam e desorganizam um povo. Assim, o currículo é visto como campo de conflito em torno de duas dimensões centrais da cultura: as ideologias e as relações de poder perante a seleção do conhecimento.