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sábado, 25 de janeiro de 2014

LIMITES - DESAFIO PARA PAIS E EDUCADORES



A coisa mais difícil que existe nesta vida é educar um ser humano, pois demanda a nossa atenção por um longo tempo.
Alguns fatores apontam as causas da falta de limites na educação das crianças de um modo geral, destacando os valores morais que sumiram do nosso cenário, haja vista o enorme número de casos de corrupção ininterrupta na política, empresas, igrejas etc. apresentados na mídia, nos quais dificilmente a lei consegue ser cumprida; ademais, instaurou-se na cultura a ideia de que ser esperto é a grande jogada, o contrário, uma tremenda burrice. Então, por qual razão seguir regras?
Outro ponto importante vem a ser a ausência dos pais na vida da criança, em virtude da carga horária dedicada ao trabalho, e a convivência educacional é deixada aos cuidados da escola, desde os primeiros momentos, nas creches e nas instituições educacionais, do governo ou particulares. Essa necessidade familiar gerou um sentimento de culpa nos pais, que, para compensar tais circunstâncias, são permissivos em demasia com os seus filhos, impedindo, por conseguinte, momentos de educação e proporcionamento dos valores que devem ser seguidos; derivados dos próprios valores existentes nos pais e na constituição da personalidade da criança.
Contudo, abre-se nova polêmica nesse rastro de educação sem limites, ao lembrarmos que muitos pais com filhos hoje adolescentes e outros adultos vêm de uma geração na qual se pregou por muitos anos a ideia de que a liberdade total era a melhor saída, contrapondo-se à questão de repressão sócio-histórica vivida por eles em sua juventude, o que acarretou em juízo de valores distorcido, vindo de um radicalismo social para outro, sem fazer “escola” dessa forma de se educar. Não houve ponderação e consequentemente faltou um plano mediano que fosse ajustado à medida que as demandas surgissem. Simplesmente foi se estabelecendo esse modelo de educação até o momento em que se evidenciaram os desastrosos resultados.
Outra condição a ser pensada é o exagero que os pais têm com relação aos traumas que poderão causar, caso venham a ser mais enérgicos na educação dos seus filhos.
Usar o bom-senso e algumas regras para estabelecer limites na educação infantil não arranca pedaço de ninguém. Faz-se necessária a consciência de que para educar é preciso esforço, dedicação, perseverança e paciência, muita paciência. Nas escolas a relação entre o aluno e o professor chegou a uma condição muito favorável, quando entendemos que a participação do aluno está maior, diferentemente de outras épocas em que o papel se restringia a ouvir e guardar as informações que chegavam.
A criança de hoje está mais bem estimulada e responde com maior agilidade ao meio, o que lhe confere a boa posição de ser participante nos grupos sociais: casa e escola, especialmente. Todavia, dada a falta de condução por conta da educação sem limites, a criança acaba se tornando um canhão sem direção, que atira para vários lados ao acaso a acerta em quem estiver na trajetória, e a si mesma invariavelmente.
Muitos pais creem que o tempo dará jeito na questão, deixando à sorte o futuro de seus filhos. O exercício do viver só é realizável vivendo, e o mesmo ocorre com a educação, portanto, é preciso arregaçar as mangas e assumir o papel de orientador, de guia, de educador. Começar antes tarde do que nunca a se envolver nesse processo importante e determinador da vida do ser humano, cavando tempo e espaço para essa empreitada. Sempre que desejamos muito alguma coisa, damos um jeito no tempo e espaço para alcançá-la. O que nos impede de lutar por essa causa mais do que nobre? Qual medo existe em tentar educar os próprios filhos?
Como em qualquer situação da vida, haverá tropeços, que darão lugar ao adequado proceder conforme a prática e a persistência dessa convivência. Os rumos poderão ser diferentes, e certamente o serão. Outros benefícios virão naturalmente, como um maior sentimento de amor-próprio, e, em muitos casos, a unidade familiar. Mas é preciso começar, tentar, fazendo acontecer. Confie em si mesmo e mude o cenário, assumindo as responsabilidades e transmitindo muitos valores aos seus filhos, via uma educação que dá segurança e conforto, pois todos nós sempre desejamos isso.
Por que a criança deve ter limites?
Segundo Zagury (2001), a criança que não aprende a ter limites, tendo todos os seus desejos e vontades satisfeitas – tudo lhe é permitido fazer e tudo que ela quer lhe é concedido –, possivelmente desenvolverá algumas dificuldades, como descontrole emocional, histeria e ataques de raiva.
Até aproximadamente 5/6 anos, essas características são normais, pois nessa idade a criança é hedonista, egocêntrica e não tem noção de valores. Ainda não sabe o que é certo e errado. Porém os adultos, principalmente os pais, devem aos poucos ensinar aos filhos o que é esperado em nossa sociedade.
Afinal, vivemos em uma sociedade regida por regras, e quem não aprendê-las pode sair machucado em todos os aspectos (emocional, pessoal e profissional). Para que isso não ocorra, faz-se necessário que os pais estabeleçam limites aos filhos desde o início, criticando as atitudes negativas e incentivando as atitudes positivas, não relegando essa função à escola.
Infelizmente, por insegurança, culpa ou medo, muitos pais aceitam tudo que os filhos fazem, e, assim, estes começam a apresentar dificuldades em aceitar limites para a satisfação de seus desejos. Quando a criança faz birra, chora e é prontamente atendida pelos pais, tende a repetir esse comportamento. Dessa forma, ela aprende a controlar o mundo por meio do choro, do grito e da agressão. Quando a criança acostuma-se com essa situação, ao entrar na escola provavelmente terá dificuldades em aceitar as regras impostas pelos professores. O que fazer então quando a criança faz algo desaprovador? Não é necessário bater, nem agredir moralmente, mas falar com voz firme toda vez que ela fizer algo que não é correto socialmente.
s consequências são graves e prejudiciais a todos que convivem com essa criança. Ela poderá apresentar desinteresse pelos estudos, falta de concentração, falta de capacidade de suportar qualquer dificuldade, falta de persistência, desrespeito pelos outros, distúrbios de conduta, dificuldade para concluir tarefas e excitabilidade.
Muitas vezes a criança sem limites é confundida com a criança hiperativa, pois tende a desenvolver um quadro de “irritabilidade, instabilidade emocional, redução da capacidade de concentração e atenção” (op. cit, p. 44).
Sabe o que mais acarreta a falta de limites? Agressões físicas quando contrariado, descontrole e problemas psiquiátricos nos casos em que há predisposição. Nossa! Agora você ficou assustado? Pois é, viu como é importante fazer com que a criança aprenda as regras básicas de conduta? Dizer “não” também é sinal de amor.
Se os pais são firmes, porém afetivos, diante das condutas inadequadas de seus filhos, a criança vai aprendendo a se comportar em sociedade, internalizando valores e adquirindo respeito por si e pelos outros. Além disso, aprende a conversar, a lutar pelos seus direitos sem agressões.
Caso isso não ocorra, a criança começa a ter problemas de comportamento e de ajuste social, o que se torna difícil de ser resolvido. Dessa forma, a criança age de modo distorcido e torna-se um adolescente e/ou adulto com possíveis problemas como marginalização, uso de álcool e drogas.
Devemos ensinar nossos filhos a interagir positivamente com o mundo. Essa é uma tarefa difícil, longa e cansativa, porém, segundo Zagury (2001, p. 48):

“[...] é a melhor forma para nos levar a ter filhos cidadãos, responsáveis e conscientes de seus direitos e deveres, em vez de criaturas egocêntricas, antissociais, hedonistas ao extremo, sem capacidade de luta, sem tolerância à frustração e, em consequência, sem capacidade de adiar satisfação.”

Referências
BOCK, Ana M. Bahia (org.). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
PAROLIN, Isabel. As dificuldades de aprendizagem e as relações familiares. Fortaleza: Livro da 5º Jornada de Educação do Norte e Nordeste, 2003.
ZAGURY, Tania. Limites sem trauma. Rio de Janeiro: Record, 2001.