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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

NATUREZA E SOCIEDADE



“Pescadores de vida Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para descobrir o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: — Me ajuda a olhar!”

Eduardo Galeano

Desde muito pequena as crianças aprendem sobre o mundo fazendo perguntas e procurando respostas. Trabalhar com a criança o tema “natureza e sociedade” significa abordar os mais diferentes campos das Ciências Humanas e Naturais. Esse trabalho deve propiciar experiências que possibilitem o conhecimento das diversas formas de representação e explicação do mundo social e natural, para que as crianças estabeleçam progressivamente diferenciações entre o que é real e o que é imaginário. Deve-se respeitar suas experiências anteriores e, a partir delas, trabalhar a tomada de consciência do mundo, que permitirá um melhor desenvolvimento em cada etapa de sua vida.
O que ensinamos de ciências?
Ensinar ciências nos remete a três sentidos:
1.    Ciências como corpo conceitual de conhecimento; como sistema conceitual organizado de maneira lógica.
2.    Ciências como forma de produção de conhecimento.
3.    Ciências como modalidade de vínculo com o saber e sua produção.
Essas três acepções apresentam a ciência como um corpo de conhecimentos que contém conceitos, procedimentos e atitudes. Esse corpo de conhecimentos atua como referência no momento de elaborar o objeto a ensinar, ou seja, no momento de selecionar conteúdos da ciência escolar.
A ciência escolar, portanto, está constituída por um corpo de conteúdos que contém conceitos, procedimentos e atitudes selecionados a partir do corpo científico erudito. A categoria de conteúdos conceituais abrange diferentes tipos: dados, fatos, conceitos e princípios. Por meio do ensino desses conteúdos, não esperamos nem nos propomos a alcançar mudanças conceituais profundas, mas sabemos que é possível enriquecer os esquemas de conhecimentos de nossos alunos.
A categoria de conteúdos de procedimentos abrange também diferentes tipos, não constituindo somente ações corporais, mas também ações de natureza interna, ou seja, ações psicológicas.
A categoria de conteúdos de atitudes abrange também um conjunto de normas e valores por meio dos quais nos propomos a despertar nas crianças uma atitude científica, ou seja, uma modalidade de vínculo com o saber e sua produção.
A curiosidade, a busca constante, o desejo de conhecer pelo prazer de conhecer, a crítica livre em oposição ao critério da autoridade, a comunicação e a cooperação na produção coletiva de conhecimento são alguns dos traços que caracterizam a atitude a que nos propomos formar.
Como ensinar ciências às crianças?
A questão central é a de encontrar um estilo de trabalho por meio do qual as crianças possam se apropriar de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. A fundamentação teórica e a concepção de ensino são determinantes para a elaboração das estratégias de ensino.
Saiba mais: ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. cap. III, IV e VI.
O lugar atribuído aos conhecimentos prévios do aluno no processo de aprendizagem

Sustenta-se que os conhecimentos prévios constituem sistemas de interpretação e de leitura a partir dos quais as crianças conferem significados às situações de aprendizagem escolar, portanto, estruturar o ensino a partir desses conhecimentos é uma condição necessária para que os alunos obtenham uma aprendizagem significativa.
O lugar atribuído à ação na aprendizagem das crianças
Uma proposta de ensino é ativa quando favorece a construção de novos significados nos alunos. Se isso não ocorrer, estaremos diante de ações físicas, meros movimentos carentes de conteúdos, o que denominamos ativismo.
A ação que aparece atualmente hierarquizada/organizada a partir de diferentes pesquisas é, então, a ação cognoscitiva. Para eliminá-la, é imprescindível trabalhar a partir dos conhecimentos prévios dos alunos enquanto marcos interpretativos por meio dos quais são construídos os novos significados.
O lugar atribuído à informação e suas implicações didáticas
Atualmente contamos com pesquisas que começaram a demonstrar que existe uma íntima relação entre o modo como se constrói o conhecimento e o objeto dele.
Isso nos proporciona novos elementos para sustentar a tese de que não é impossível aprender conteúdos de procedimentos separados dos conteúdos conceituais.
As crianças trazem de casa as ideias do que é ciência que foram absorvidas pela mídia, entre outras fontes. Trazem a ideia de que ciência é fazer experiências, é experimentação. O professor deve limpar essa visão de ciência, ciência é muito mais que isso.
O professor ainda está muito preso a grandes temas. O que garante o trabalhar bem em ciência é o valor que é dado a cada tema – depende da maneira que se trabalha. O bom trabalho com ciência não está ligado aos temas, mas sim às boas atividades.
Em resumo, se existem vários conteúdos, existem várias maneiras de ensinar e de aprender:
·         fazer fazendo – o procedimento
·         saber construindo, trocando e pensando – o conceito
·         ser praticando e respeitando – a atitude
·         memorizar – o fato
No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI –, a área de conhecimento estudada é denominada “A criança, a natureza e a sociedade”. Decidimos dividir essa área em duas partes: nas páginas anteriores vimos as Ciências Naturais, nas próximas estudaremos as Ciências Sociais e sua relação e diferenciação com a História.
Ciências Sociais: trata de assuntos mais recentes, mais atuais, que são trabalhados principalmente na Educação Infantil. Os assuntos das Ciências Sociais são os que fazem a História.
História: é mais complexa, envolve a compreensão do passado, questões políticas e sociais, valor político-ideológico e intelecto.
Para compreender a História, é necessário um processo de mudança conceitual no aluno. E não existem pesquisas que digam se o processo de reestruturação conceitual acontece da mesma forma nas Ciências Naturais e nas Ciências Sociais, mas tudo faz supor que no caso do conhecimento social e histórico a resistência à mudança será muito maior por causa da influência dos valores.
Características do conhecimento social e histórico
1.    A História é o estudo do passado, e isso pressupõe um tipo de conhecimento diferente do sociológico.
2.    Os conteúdos históricos e sociais sofrem enormes transformações por causa das influências ideológicas e políticas.
3.    Os valores exercem influência na mudança conceitual.
4.    Nas disciplinas sócio-históricas não há fatos puros; os fatos são selecionados de acordo com as teorias sustentadas pelo historiador ou pelo cientista social.
5.    A História e as Ciências Sociais são encaradas como atividades de raciocínio.

Como complemento, visualize a tabela, que faz parte do conteúdo e facilita a sua compreensão.

Ciências Experimentais
Ciências Sociais e História
Realização de experiências
Controle de variáveis como estratégia cognitiva
Manipulação de variáveis
Pouca influência ideológica
Pouco relativismo
Acordo sobre os enfoques dominantes
Pouca influência afetiva e motivacional dos conteúdos
Efeito imediato do resultado da solução
Tecnologia 
Não são realizadas experiências
Não pode ser aplicado o controle de variáveis; são utilizadas estratégias alternativas
Não há manipulação de variáveis
Intensa influência ideológica
Intenso relativismo
Fortes diferenças entre os enfoques
Forte influência afetiva e motivacional dos conteúdos
Efeito demorado do resultado da solução
Tecnologia social

6.            Embora a História não tenha leis da mesma natureza que as das Ciências Naturais, ela tem manifestado a existência de regularidades ou modelos gerais que podem ser aplicados a situações do tipo:
A História como relato: essa visão da História como um simples relato dos fatos tem sido muito criticada porque ignora totalmente a influência das estruturas econômicas sociais, assim como as influências sociais e políticas.
A História e as Ciências Sociais usam não somente explicações causais, mas também intencionais.
As explicações históricas e sociais distinguem-se das oferecidas pelas Ciências Naturais porque incluem os motivos e intenções de seus agentes.
Corpo e saúde
Organize uma brincadeira para que os alunos tenham oportunidade de observar os movimentos dos próprios músculos e os dos colegas:
1.    abrir e fechar a mão, observando o músculo do antebraço se movendo.
2.    ficar na ponta dos pés, observando o músculo da panturrilha se movendo.
3.    abrir e fechar a boca, sentindo, com a mão na bochecha, o movimento do músculo da face.
4.    brincar de braço de ferro, para sentir a força muscular de um colega.
Afetividade e história pessoal
Proponha aos alunos uma dramatização das relações familiares: “Vamos brincar de família?”; “Quem vai ser a mãe e o pai?”; “E o irmão?”. Ajude-os a organizar os espaços, reproduzindo as dependências da casa, criando vizinhanças. Com atividades de representação, as crianças dessa faixa etária têm oportunidade de elaborar seus conflitos familiares, compreender melhor os papéis desempenhados na família e situar-se nessas relações.
Saiba mais: ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos de aprendiz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
O conhecimento, qualquer que seja, não tem vida autônoma, visto que se trata de um produto cultural. O mesmo pode ser dito em relação à arte, à cultura e ao conhecimento, pois são sujeitos de carne e osso que interpretam a realidade, dando vida às palavras, às ações, aos fazeres, criando diferentes formas de expressar o mundo.
Referência
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. v. III. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CENTURIÓN, Marília et al. Jogos, projetos e oficinas para a Educação Infantil. São Paulo: FTD, 2004.
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2005.