“Pescadores de vida
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para descobrir o
mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas,
esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia,
depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a
imensidão do mar e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando
finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: — Me ajuda a
olhar!”
Eduardo Galeano
Desde muito pequena as crianças aprendem sobre o
mundo fazendo perguntas e procurando respostas. Trabalhar com a criança o tema
“natureza e sociedade” significa abordar os mais diferentes campos das Ciências
Humanas e Naturais. Esse trabalho deve propiciar experiências que possibilitem
o conhecimento das diversas formas de representação e explicação do mundo
social e natural, para que as crianças estabeleçam progressivamente
diferenciações entre o que é real e o que é imaginário. Deve-se respeitar suas
experiências anteriores e, a partir delas, trabalhar a tomada de consciência do
mundo, que permitirá um melhor desenvolvimento em cada etapa de sua vida.
O que ensinamos de ciências?
Ensinar ciências nos remete a três sentidos:
1.
Ciências como corpo conceitual de conhecimento;
como sistema conceitual organizado de maneira lógica.
2.
Ciências como forma de produção de conhecimento.
3.
Ciências como modalidade de vínculo com o saber e
sua produção.
Essas três acepções apresentam a ciência como um corpo de conhecimentos
que contém conceitos, procedimentos e atitudes. Esse corpo de conhecimentos
atua como referência no momento de elaborar o objeto a ensinar, ou seja, no
momento de selecionar conteúdos da ciência escolar.
A ciência escolar, portanto, está constituída por um corpo de conteúdos
que contém conceitos, procedimentos e atitudes selecionados a partir do corpo
científico erudito. A categoria de conteúdos conceituais abrange diferentes
tipos: dados, fatos, conceitos e princípios. Por meio do ensino desses
conteúdos, não esperamos nem nos propomos a alcançar mudanças conceituais
profundas, mas sabemos que é possível enriquecer os esquemas de conhecimentos
de nossos alunos.
A categoria de conteúdos de procedimentos abrange também diferentes
tipos, não constituindo somente ações corporais, mas também ações de natureza
interna, ou seja, ações psicológicas.
A categoria de conteúdos de atitudes abrange também um conjunto de
normas e valores por meio dos quais nos propomos a despertar nas crianças uma
atitude científica, ou seja, uma modalidade de vínculo com o saber e sua
produção.
A curiosidade, a busca constante, o desejo de conhecer pelo prazer de
conhecer, a crítica livre em oposição ao critério da autoridade, a comunicação
e a cooperação na produção coletiva de conhecimento são alguns dos traços que
caracterizam a atitude a que nos propomos formar.
Como ensinar ciências às crianças?
A questão central é a de encontrar um estilo de
trabalho por meio do qual as crianças possam se apropriar de conteúdos
conceituais, procedimentais e atitudinais. A fundamentação teórica e a
concepção de ensino são determinantes para a elaboração das estratégias de
ensino.
Saiba
mais: ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto
Alegre: Artmed, 1998. cap. III, IV e VI.
O lugar
atribuído aos conhecimentos prévios do aluno no processo de aprendizagem
Sustenta-se que os conhecimentos prévios constituem
sistemas de interpretação e de leitura a partir dos quais as crianças conferem
significados às situações de aprendizagem escolar, portanto, estruturar o
ensino a partir desses conhecimentos é uma condição necessária para que os
alunos obtenham uma aprendizagem significativa.
O lugar atribuído à ação na aprendizagem das
crianças
Uma proposta de ensino é ativa quando favorece a
construção de novos significados nos alunos. Se isso não ocorrer, estaremos
diante de ações físicas, meros movimentos carentes de conteúdos, o que
denominamos ativismo.
A ação que aparece atualmente hierarquizada/organizada a partir de
diferentes pesquisas é, então, a ação cognoscitiva. Para eliminá-la, é
imprescindível trabalhar a partir dos conhecimentos prévios dos alunos enquanto
marcos interpretativos por meio dos quais são construídos os novos
significados.
O lugar atribuído à informação e suas implicações
didáticas
Atualmente contamos com pesquisas que começaram a
demonstrar que existe uma íntima relação entre o modo como se constrói o
conhecimento e o objeto dele.
Isso nos proporciona novos elementos para sustentar a tese de que não é
impossível aprender conteúdos de procedimentos separados dos conteúdos
conceituais.
As crianças trazem de casa as ideias do que é ciência que foram
absorvidas pela mídia, entre outras fontes. Trazem a ideia de que ciência é
fazer experiências, é experimentação. O professor deve limpar essa visão de
ciência, ciência é muito mais que isso.
O professor ainda está muito preso a grandes temas. O que garante o
trabalhar bem em ciência é o valor que é dado a cada tema – depende da maneira
que se trabalha. O bom trabalho com ciência não está ligado aos temas, mas sim
às boas atividades.
Em resumo, se existem vários conteúdos, existem várias maneiras de
ensinar e de aprender:
·
fazer fazendo – o procedimento
·
saber construindo, trocando e pensando – o conceito
·
ser praticando e respeitando – a atitude
·
memorizar – o fato
No Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil – RCNEI –, a área de conhecimento estudada é
denominada “A criança, a natureza e a sociedade”. Decidimos dividir essa área
em duas partes: nas páginas anteriores vimos as Ciências Naturais, nas próximas
estudaremos as Ciências Sociais e sua relação e diferenciação com a História.
Ciências Sociais: trata de assuntos mais recentes, mais
atuais, que são trabalhados principalmente na Educação Infantil. Os assuntos
das Ciências Sociais são os que fazem a História.
História: é mais complexa, envolve a compreensão
do passado, questões políticas e sociais, valor político-ideológico e
intelecto.
Para compreender a História, é
necessário um processo de mudança conceitual no aluno. E não existem pesquisas
que digam se o processo de reestruturação conceitual acontece da mesma forma
nas Ciências Naturais e nas Ciências Sociais, mas tudo faz supor que no caso do
conhecimento social e histórico a resistência à mudança será muito maior por
causa da influência dos valores.
Características do conhecimento social e histórico
1.
A História é o estudo do passado, e isso pressupõe
um tipo de conhecimento diferente do sociológico.
2.
Os conteúdos históricos e sociais sofrem enormes
transformações por causa das influências ideológicas e políticas.
3.
Os valores exercem influência na mudança
conceitual.
4.
Nas disciplinas sócio-históricas não há fatos
puros; os fatos são selecionados de acordo com as teorias sustentadas pelo
historiador ou pelo cientista social.
5.
A História e as Ciências Sociais são encaradas como
atividades de raciocínio.
Como complemento, visualize a tabela, que faz parte do conteúdo e facilita a sua compreensão.
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Ciências Experimentais
|
Ciências Sociais e História
|
Realização
de experiências
Controle de variáveis como estratégia cognitiva Manipulação de variáveis Pouca influência ideológica Pouco relativismo Acordo sobre os enfoques dominantes Pouca influência afetiva e motivacional dos conteúdos Efeito imediato do resultado da solução Tecnologia |
Não são
realizadas experiências
Não pode ser aplicado o controle de variáveis; são utilizadas estratégias alternativas Não há manipulação de variáveis Intensa influência ideológica Intenso relativismo Fortes diferenças entre os enfoques Forte influência afetiva e motivacional dos conteúdos Efeito demorado do resultado da solução Tecnologia social |
6.
Embora a História não tenha leis da mesma natureza
que as das Ciências Naturais, ela tem manifestado a existência de regularidades
ou modelos gerais que podem ser aplicados a situações do tipo:
- A História como relato: essa visão da História como um simples relato dos fatos tem sido muito criticada porque ignora totalmente a influência das estruturas econômicas sociais, assim como as influências sociais e políticas.
- A História e as Ciências Sociais usam não somente explicações causais, mas também intencionais.
- A História como relato: essa visão da História como um simples relato dos fatos tem sido muito criticada porque ignora totalmente a influência das estruturas econômicas sociais, assim como as influências sociais e políticas.
- A História e as Ciências Sociais usam não somente explicações causais, mas também intencionais.
As explicações históricas e sociais distinguem-se das oferecidas pelas
Ciências Naturais porque incluem os motivos e intenções de seus agentes.
Corpo e saúde
Organize uma brincadeira para que os alunos tenham
oportunidade de observar os movimentos dos próprios músculos e os dos colegas:
1.
abrir e fechar a mão, observando o músculo do
antebraço se movendo.
2.
ficar na ponta dos pés, observando o músculo da
panturrilha se movendo.
3.
abrir e fechar a boca, sentindo, com a mão na
bochecha, o movimento do músculo da face.
4.
brincar de braço de ferro, para sentir a força
muscular de um colega.
Afetividade
e história pessoal
Proponha aos alunos uma dramatização das relações
familiares: “Vamos brincar de família?”; “Quem vai ser a mãe e o pai?”; “E o
irmão?”. Ajude-os a organizar os espaços, reproduzindo as dependências da casa,
criando vizinhanças. Com atividades de representação, as crianças dessa faixa
etária têm oportunidade de elaborar seus conflitos familiares, compreender
melhor os papéis desempenhados na família e situar-se nessas relações.
Saiba
mais: ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos
de aprendiz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
O conhecimento, qualquer que seja, não tem vida autônoma, visto que se
trata de um produto cultural. O mesmo pode ser dito em relação à arte, à
cultura e ao conhecimento, pois são sujeitos de carne e osso que interpretam a
realidade, dando vida às palavras, às ações, aos fazeres, criando diferentes
formas de expressar o mundo.
Referência
BRASIL. Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil. v. III. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CENTURIÓN, Marília et al. Jogos, projetos e
oficinas para a Educação Infantil. São Paulo: FTD, 2004.
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços.
Porto Alegre: L&PM, 2005.