Reconhecer e valorizar os números é um dos objetivos para as crianças de
4 a 6 anos, por isso esse tema foi escolhido para esta aula.
Já apresentamos que uma das concepções matemáticas presentes nas salas
de aula de Educação Infantil seria a transformação, em simples atividades, das
habilidades quantitativas, classificatórias e seriais, importantes para o
desenvolvimento do pensamento lógico-matemático.
Retomaremos de maneira um pouco mais elucidativa essa questão para
discutirmos a quantificação e o número operatório.
“A estrutura
lógica de classificação se desenvolve de forma gradual, em etapas sucessivas da
infância até a adolescência. De início, a criança constrói seu primeiro
conceito classificatório em contato com objetos. Pouco a pouco sua necessidade
de elementos concretos diminui e, quando adolescente, será capaz de construir
esquemas abstratos de classificação. Podemos estimular esse brincar na escola
não como um conteúdo a ser ensinado, mas como uma habilidade a ser desenvolvida
de forma progressiva e constante, adequada ao nível de desenvolvimento. Classificar
não se ensina, estimula-se (grifo nosso)”
.(Ramos, 2009,
p.19)
Estabelecer a
relação quantitativa não é tarefa fácil para a criança, como já vimos em
relação ao processo da contagem.
Agora discorreremos sobre outro processo, o
desenvolvimento da correspondência termo a termo, a chamada correspondência
biunívoca com a presença da invariância numérica, ou seja, a conservação de
quantidade, a efetivação da quantificação. A conservação de quantidade
favorecerá a consolidação do número para a criança.
“O princípio da
conservação de quantidade numérica, também chamado de invariância numérica, é
percebido pela criança quando ela é capaz de compreender que uma quantidade
permanece idêntica seja qual for o arranjo das unidades que a formam, isto é,
quando ela concorda que a totalidade dessa quantidade se mantém a mesma,
independentemente do espaço que ocupar [...].”
(Ramos, 2009, p. 27)
Correspondência biunívoca
Como a contagem, a
correspondência biunívoca é um processo longo e não desligado dos demais. Para
que a criança o atinja terá que se apropriar de diferentes situações do
cotidiano.
Seu primeiro passo não terá nenhuma relação com a
correspondência propriamente dita, a criança inicialmente estabelecerá uma
correspondência global com os objetos de uma coleção. Sua percepção de
quantidade ainda é limitada, e quem a auxiliará na distinção, por exemplo, de
muito e pouco é o adulto.
Então, enquanto pequenas, devemos saber que as
crianças não empregam a correspondência termo a termo, assim como não têm a
noção de quantidade numérica, elas apenas concebem uma quantidade “bruta”
relacionada com o todo.
Quando perguntamos para a uma criança, por exemplo,
quantos brinquedos ela possui, sua resposta, se for o caso, será “muitos”,
“bastante” e ela até mesmo se utilizará da representação corporal para mostrar
isso, indicando com os braços abertos o que significaria essa quantidade grande
de brinquedos.
Ela ainda não consegue estabelecer um pareamento
entre os objetos, pela “incapacidade” de coordenar as duas relações fornecidas
pelos dados de percepção, que são: o comprimento da fila e sua densidade
(distância entre um elemento e o próximo).
Mais adiante, a criança passa a fazer o emprego
espontâneo da correspondência termo a termo de pequenas quantidades, entre 1 e
4 ou 5 elementos. Esses números são chamados de intuitivos ou perceptivos, pois
a criança faz a correspondência pela percepção, e não pela operação.
Ela começa a fazer o pareamento entre os objetos:
coloca um objeto em frente ao outro para a solução de um problema proposto.
Isso é possível porque ela atingiu a coordenação entre as relações espaciais de
densidade e de comprimento. Mas isso ocorre ainda com pequenas quantidades de 1
e 4 ou 5 elementos, como dito anteriormente. Quantidades maiores para a criança
configuram-se nessa altura ainda como um desafio a ser transposto.
O próximo passo nesse processo será exatamente a criança empregar, para
coleções além de cinco elementos, a contagem e a correspondência termo a termo.
Como o professor pode ajudar a criança?
Lembrando a importância da validação das ações cotidianas e relacionadas
com desafios concretos e reais; um exemplo simples seria pedir à criança que
pegue no armário a quantidade de caixas de lápis de cor necessárias para os
colegas que estão em sua mesa; imaginemos que seja uma mesa sextavada e existam
seis crianças nela, ela deverá pegar seis caixas de lápis de cor para essa
mesa, contando cinco colegas e incluindo a si própria.
Parece simples, mas a ação de relacionar certo grupo a outro ajudará a
criança a resolver um problema concreto e real sobre a correspondência termo a
termo.
Quando podemos dizer que a criança quantifica realmente?
Quando ela utiliza-se do recurso da contagem, toda vez que necessita de
uma informação quanto aos elementos presentes em uma coleção.
Identifica-se que a contagem passa a ser utilizada como um recurso para
a avaliação da quantidade total. E, somente quando a correspondência termo a
termo, inicialmente qualitativa, torna-se, então, numérica, é que a numeração
falada atinge o seu significado real e passa a ser utilizada como instrumento
da razão.
A criança operacionaliza a relação termo a termo, não se utilizando mais
do recurso perceptivo e espacial para verbalizar uma resposta.
“Como, pois, a
correspondência qualitativa se torna numérica?
Piaget responde a essa questão dizendo que a criança cria uma nova relação de caráter então operatório, que é a igualização das diferenças. Por essa operação, a criança, ao acrescentar um novo elemento à série que está quantificando, preocupa-se apenas com a relação criada em sua mente de “colocar mais um”. Assim, o espaço ocupado entre esse elemento e o anterior já não importa na avaliação da quantidade, pois esse dado perceptivo é subordinado a essa relação de colocar mais um.”
Piaget responde a essa questão dizendo que a criança cria uma nova relação de caráter então operatório, que é a igualização das diferenças. Por essa operação, a criança, ao acrescentar um novo elemento à série que está quantificando, preocupa-se apenas com a relação criada em sua mente de “colocar mais um”. Assim, o espaço ocupado entre esse elemento e o anterior já não importa na avaliação da quantidade, pois esse dado perceptivo é subordinado a essa relação de colocar mais um.”
(Rangel, 1991, p. 126)
Podemos dizer que
nesse momento a criança compreendeu a estrutura da composição numérica (a ideia
de +1 – inclusão hierárquica de classes), e já estabilizou o número operatório:
ou seja, a síntese entre classificação e seriação.
Para ilustrar o processo de construção e
apropriação do número operatório, utilizaremos uma imagem de Ramos (2009):
Como
complemento e ilustração, visualize a figura sobre o processo de construção e
apropriação do número operatório. A figura faz parte do conteúdo facilita a sua compreensão.
Referência
DIAS, Fátima R.
T.; FARIA, Vitória L. B. Como a criança constrói o conceito de número? Caderno
AMAE, n. 1, 1988.
KAMII, Constance. A
criança e o número. Campinas: Papirus, 1985.
RAMOS, Luzia
Faraco. Conversas sobre números, ações e operações. Uma proposta
criativa para o ensino da matemática nos primeiros anos. São Paulo: Ática, 2009.
RANGEL, Ana
Cristina de Souza. “A construção do número: do desenvolvimento da estrutura
cognitiva à evolução da representação gráfica espontânea na matematização do
real pela criança”. In: SILVA, Dinorá F. (org.). Para uma política
educacional da alfabetização. Campinas: Papirus, 1991.