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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

DESMITIFICANDO A MATEMÁTICA E A SUA RELAÇÃO COM A MODERNIDADE




“É fazendo que aprendemos as coisas que temos de aprender, antes de podermos fazê-las”. ARISTÓTELES (384- 322 a.C.)

Os tempos modernos, as psicologias de aprendizagem e as filosofias de educação nos levaram ao binômio: ensino implica em aprendizageme nos fizeram crer que ensinar implica em fazer alguém aprenderPorém, sem compreensão e esforço próprio não há aprendizagem. A compreensão não nasce da explicação do professor, assim como o esforço não pode ser por ele dado ao aluno. A compreensão brota da maturidade, do mesmo modo que o esforço surge do interesse.
Há alguma utilidade em aprender Matemática? Muitos acreditam que sim, e poucos seriam capazes de dizer que não. Qual é o objetivo de aprendê-la? Há respostas de todos os tipos, defendidas por admiradores e atacadas por quem tem outros pontos de vista. O certo é que uma grande maioria de pessoas não se encaixa entre seus admiradores. Na verdade, elas são vítimas inocentes de interesses egoístas e ideologias e, por isso, elas veem o ensino da matemática como um instrumento excludente.
Os alunos ditos inteligentes, são aqueles que conseguem aprender sem estabelecer uma ponte de significação com o que vivenciam no seu cotidiano, pois têm mais facilidade para desenvolver o raciocínio lógico-matemático. Existem ainda os considerados não tão inteligentes, que não conseguem aprender sem estabelecer a significação daquilo que é ensinado na escola com o que é vivenciado no dia-a-dia. Esses últimos, não aprendem com tanta facilidade como os primeiros.
Por outro lado, há um pequeno grupo que vê a Matemática positivamente e atribui a ela finalidade e objetivo. Embora não seja um modo único, as finalidades usualmente enunciadas do ensino da Matemática são agrupadas em: Educativas ou Formadoras – Histórico-Culturais – Sociais – Profissionais: para formar o educador matemático, formar o matemático profissional e formar o profissional integrado a outras áreas do conhecimento humano que se valem da Matemática.
Infelizmente, em muitas escolas o ensino da Matemática ainda está direcionado para atuar como um instrumento disciplinador e excludente. A maioria de professores tem como único objetivo ensinar a matéria, sem se preocupar em repassar ao aluno um conhecimento matemático significativo.
As críticas que se levantam contra os vários aspectos e resultados do ensino da Matemática vêm ocasionando debates, os quais levam os profissionais da área a repensarem o seu papel e a procurarem novas estratégias didáticas. Ocorre assim, a  busca por atividades matemáticas que sejam realmente educativas, e não meramente um "treino" sem sentido para o aluno. Se o professor conseguir trabalhar nessa linha, a Matemática será um ótimo instrumento para educar o indivíduo socialmente. Mais ainda, ela será um instrumento ímpar para trabalhar sua formação.
Os profissionais que se preocupam em desmistificar o ensino da Matemática acreditam que é possível alcançar esse objetivo, desde que seja levada em consideração a realidade dos alunos em sala de aula. Para eles, há influência de pelo menos quatro elementos no ensino matemático: 1º o professor – 2º o conhecimento lógico-matemático – 3º o ambiente (pais, administração escolar, colegas e espaço físico) – 4º o aluno.
Geralmente, aquilo que costuma provocar satisfação real na vida das pessoas não costuma lhes causar aborrecimento. É razoável então, pensar que as abordagens de aprendizagem que não conseguem satisfazer ou manter os alunos interessados, não trarão alegria para suas vidas. Assim, para que o aluno aprenda, é necessário tornar o objeto da aprendizagem agradável e divertido.
A criança e o jovem gostam de movimentar-se, conversar, perguntar, rabiscar, brincar, colorir, cantar, jogar e, principalmente, agir. Em Educação Matemática, todas essas ações que a criança ou jovem sentem satisfação em realizar tornam-se veículos estupendos para o aluno aprender. Além de satisfazer e alegrar, é necessário compreender que eles necessitam de uma boa formação para enfrentar o mundo à sua frente.
A aprendizagem que a escola propicia deve preparar o indivíduo para o futuro. A cada instante, as pessoas precisam estar aptas a solucionar situações-problemas de diferentes aspectos. Os alunos deverão aprender a resolver tais questões, assumindo responsabilidades.
Assim, só é possível deflagrar idéias matemáticas na cabeça de alguém, se esse alguém for colocado diante de uma situação envolvente, problematizadora, interessante, desafiante e, ao mesmo tempo, que seja capaz de estimulá-lo a aprender. Não é uma situação lida em livro, não é uma situação apenas explicada oralmente, descrita ou exposta no quadro negro pelo professor. A situação deverá vislumbrar o aluno, fazendo com que ele consiga aprender plenamente. Infelizmente, algumas escolas e professores não estão preparados para isso.
Aprendemos no decorrer dos nossos estudos matemáticos que a aprendizagem da criança deve ocorrer por meio de atividades que lhe tragam significação. Atualmente, algumas escolas e professores têm entregue o conhecimento matemático pronto e acabado para o aluno (ensino euclidiano). Dessa forma, não permitem que o aluno construa sua aprendizagem estabelecendo relação de significação (ensino arquimediano).
O conhecimento matemático deve ser construído pelo aluno por meio de atividades que lhe despertem o interesse em aprender, fazendo relações do que ele vê dentro da escola com o que ele já conhece fora da escola. Assim, o aluno associa o que apende ao seu convívio sócio-cultural.
Muitos professores de Matemática não utilizam atividades envolvendo materiais concretos em sala de aula. Assim, desconhecem que há maior eficácia quando os alunos conseguem estabelecer relações entre aquilo que a escola ensina e o que eles conhecem do mundo. Costumo conceituar as atividades lúdicas como técnicas que têm o propósito de imitar a realidade vivenciada pelo aluno, por meio de jogos e brincadeiras que devem ser aplicados pedagogicamente, levando o aluno a aprender os conceitos matemáticos com maior facilidade.
Finalizamos, nos reportando ao fragmento textual citado por Reginaldo N. de Souza Lima, que nos leva a refletir sobre qual a nossa principal função como educadores, ou seja: “Educar é flexibilizar para o inesperado, pois, assim será o porvir. É criar coragem para ousar, decidir e solucionar situações, pois, assim exige o viver. E é ter paciência com inconstância, pois, esta é a marca registrada da vida”.

O COORDENADOR PEDAGÓGICO DIANTE DAS ATIVIDADES DO INÍCIO DO ANO LETIVO




“A tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer.”
Albert Einstein

Você já parou para pensar que as atividades que acontecem em uma escola no início de cada ano letivo devem ser planejadas e replanejadas, sistematicamente pensadas?
Ocorre, em alguns casos, que os educadores escolares se equivocam pensando que todos sabem qual é sua função, todos conhecem o ambiente de trabalho e a dinâmica escolar. Se partem dessa ideia, tendem a considerar que, se algo sai errado, é porque alguém que tem clareza de sua responsabilidade deixa de honrá-la adequadamente.
Mas não é bem assim. E é por isso que você precisará prestar bastante atenção no que será apresentado a seguir e refletir sobre sua responsabilidade, como futuro(a) coordenador(a) pedagógico(a), para atuar no sentido de prevenir situações problemáticas, bem como promover situações saudáveis do ponto de vista educacional e sócio afetivo, com o preparo minucioso das atividades do início do ano letivo.
De acordo com Bruno, Almeida e Christov (2009), o contexto do início do ano em uma escola tem especificidades como o ingresso de alunos novos (em uma escola nova; com propostas inéditas de trabalho; espaços, professores, normas e colegas desconhecidos), contratação de professores (que também desconhecem as regras da unidade escolar, bem como sua dinâmica interna e o restante da comunidade que a compõem) e o retorno de alunos e professores após o período de férias (que também passarão a trabalhar com colegas diferentes).
Às vezes, tendo ouvido comentários positivos e/ou negativos em relação à proposta de trabalho da escola e dos educadores, do ambiente e dos colegas, há, ainda, expectativas diversas tanto da parte dos alunos quanto dos professores sobre o que encontrarão à frente.
Nesse contexto, o coordenador pedagógico não poderá perder de vista que o aluno é seu foco, a razão de ser de todo o trabalho escolar. A escola é, decerto, locus privilegiado de acesso ao saber sistematizado, construção de conhecimentos, aprendizagem de competências e desenvolvimento de habilidades, mas tudo isso deve ocorrer tendo-se o bem-estar do aluno como objeto de cuidadosa atenção e a consciência de que tanto alunos quanto professores tendem a iniciar seus anos letivos com bastante energia positiva que deve ser bem aproveitada. E isso pode e deve ser feito a partir da boa organização das atividades do início do ano letivo.
A esse respeito, referindo-se ao ingresso de uma criança na escola, adverte-nos Gusdorf:

“Parece que tudo se conjuga para dar a esse instante fugidio o caráter solene que tem. A criança, herói obscuro dessa iniciação, refugia-se nas lágrimas. A emoção mal a deixa perceber e não lhe é sequer possível ter a consciência exata do que está vivendo. Os pais, na sua satisfação, nada percebem: “Agora o pequeno vai à escola. Graças a Deus, vamos ficar um pouco mais tranquilos durante o dia”.
“Quanto ao professor, já passou por outras situações semelhantes: além disso, depara-se com o acontecimento em geral e não em particular, e está preocupado em celebrar as liturgias escolares do novo ano que começa, a fim de conseguir depressa fazer reinar a ordem em meio ao amedrontado rebanho dos “novos”. Rapidamente, se estabelecem o hábito e a rotina das obrigações diárias.”
(Gusdorf, 1995, p. 28-9)
Tente parar para pensar em como você se sente (e já se sentiu) a cada início de ano ou semestre letivo. Que sensações positivas ou negativas teve. A partir disso, pense também na responsabilidade que terá à frente de uma coordenação pedagógica para que os alunos e professores com quem trabalhar tenham prazer em suas atividades e em permanecer no ambiente escolar.

Será preciso que você, fundamentalmente, proceda com:
1.    Caracterização dos alunos (para organizá-los em grupos ou turmas de uma sala de aula e também para motivar os professores para recebê-los).
2.    Organização dos grupos de alunos (que poderão trabalhar em salas de aula ou não, conforme a tendência pedagógica que você seguir).
3.    Preparação dos professores.
          4.Recepção dos alunos.
Relativamente à caracterização dos alunos, temos o caso dos que já são alunos da escola e daqueles que estão ingressando. Quanto ao primeiro grupo, sua caracterização pode basear-se em dados a ser extraídos de seu desempenho acadêmico e vivência cotidiana do ano anterior. Já quanto aos alunos novos, é preciso que o(a) coordenador(a) pedagógico(a) objetive, no processo de sua caracterização, diagnosticá-los quanto a conhecimentos acadêmicos prévios, anseios, receios, aspectos emocionais relevantes para o trabalho pedagógico e questões ligadas ao seu relacionamento interpessoal e a valores e hábitos que norteiam suas ações. Também é necessário, no caso de alunos novos, que haja a apresentação da escola a eles (seus objetivos, princípios e normas).
Quanto à organização dos grupos de alunos, é preciso que pensemos que não é possível, de fato, que seja feita a partir da busca de turmas homogêneas. A heterogeneidade entre os alunos, sua diversidade em termos comportamentais, cognitivos, atitudinais e volitivos, é fato incontestável.
Além disso, Bruno, Almeida e Christov (2009) apresentam-nos valiosos argumentos contrários à formação de turmas homogêneas, conforme segue.

“1. Uma “classe dos fracos” acabaria com a autoestima dos alunos.
2. Uma “classe dos fracos” tenderia a propiciar a denominada profecia autorrealizadora.2
3. As capacidades cognitivas dos alunos não são tão fixas, nem seu desenvolvimento tão linear para servirem de indicador de aluno fraco e forte.
4. As capacidades mentais são múltiplas. Assim, fraco em quê? Matemática ou Inglês? Ou ainda em Educação Física? O fraco numa matéria ou capacidade cognitiva pode não o ser em outra matéria.
5. A escola, idealmente, não se interessa só pelo cognitivo. Assim, não poderíamos considerar como aluno forte o aluno bem-humorado, o aluno espirituoso, o aluno aglutinador, o aluno com grande capacidade de lidar com conflitos emocionais e relações interpessoais?”
(Bruno, Almeida e Christov, 2009, p. 46)
Diante disso, parece-nos ser a melhor alternativa na composição dos grupos de alunos a opção por turmas internamente heterogêneas (em termos de sexo, idade e desempenho escolar) e homogêneas (ou seja, que cada uma das turmas conte com as mesmas diferenças com que contam as outras).

“Uma das possibilidades para a formação de turmas pelo professor coordenador é iniciar a atribuição a partir de alguns poucos alunos que (...) tendem a imprimir grande influência na classe e buscar a construção de certos núcleos dinâmicos que, com maior chance, propiciem uma interação mais saudável ou equilibrada.”
(Bruno, Almeida e Christov, 2009, p. 46)
Outra providência importante que o coordenador ou a coordenadora pedagógica deve tomar no início do ano letivo, conforme anunciado anteriormente, refere-se à preparação dos professores, profissionais cuja atuação é fundamental para o trabalho dos alunos.
É preciso, ainda, conforme anunciado anteriormente, recepcionar bem os alunos (tanto os novos quanto os veteranos, cada qual com expectativas específicas). Aos novos é preciso que se ofereça oportunidades para conhecerem tanto os profissionais da escola quanto seus espaços e os arredores da instituição, de modo que se sintam apropriados do novo local de trabalho acadêmico, que se sintam pertencentes ao novo grupo e, com isso, que comecem a desenvolver atitude de respeito às pessoas, aos espaços e aos materiais.
Também são necessárias atividades de entrosamento entre os alunos veteranos e os ingressantes.
Por fim, uma boa sugestão para a primeira semana de aulas é a revisão de conteúdos e a apresentação dos novos que serão trabalhados, bem como dos novos professores (o que pode ser mais bem realizado se, ao menos nessa semana, for evitado muito rodízio de professores para que os alunos tenham uma convivência inicial maior com cada profissional com quem irão trabalhar). Essa deve ser uma semana “real”, ou seja, que não se preste a seduzir os alunos com pouco trabalho (para que não se “assustem”) ou com sobrecarga de tarefas (para dar aos alunos e às suas famílias a impressão de escola “forte”).
É preciso lembrarmo-nos que os professores também demandam atenção e precisam ser acolhidos, recebendo da coordenação pedagógica dados sobre os alunos com quem irão trabalhar. Receber os alunos precisa ser fruto de uma boa conjugação entre trabalho e construção de um vínculo afetivo saudável, de modo que fique claro a todos que o ambiente escolar pode e deve ser agradável, mas que é, prioritariamente, um ambiente de trabalho, de empenho rumo à construção de conhecimentos. Deve-se evitar, portanto, momentos de “sedução” de alunos, ou seja, momentos no início do ano em que se acolhe os alunos a partir de atrações que não correspondem ao que vai efetivamente acontecer no cotidiano letivo.

Esse momento de acolhida deve ser encarado como um adequado espaço-tempo em que professores e alunos tomam consciência dos ritmos, espaços, formas de trabalhar, limites e expectativas uns dos outros de modo a estabelecerem boas relações de trabalho.
Referência
BRUNO, E.B.G.; ALMEIDA, L.R.; CHRISTOV, L.G.S. (org.). O coordenador pedagógico e a formação docente. 10. ed. São Paulo: Loyola, 2009.
GUSDORF, G. Professores para quê? Para uma pedagogia da pedagogia. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
VILLELA, F.C.B.; GUIMARÃES, A.A. “Sobre o diagnóstico”. In: GUIMARÃES, A.A. et al. O coordenador pedagógico e a educação continuada. 11. ed. São Paulo: Loyola, 1998.