Valendo-se das reuniões pedagógicas como excelente espaço-tempo para
encontro entre você [futuro(a) coordenador(a) pedagógico(a)] e os professores.
Um espaço-tempo que pode e deve ser utilizado para a continuidade da formação
dos educadores profissionais de uma escola.
Iniciemos refletindo sobre alguns
problemas que são postos pelos coordenadores e pelos professores, via de regra,
quando se veem em reuniões pedagógicas.
Em primeiro lugar, é preciso que
pensemos que há uma tendência humana em culpabilizar o outro quando algo não
acontece como desejamos/precisamos que aconteça. No caso de reuniões
pedagógicas, muitos são os professores que, numa posição passiva,
responsabilizam o coordenador pedagógico pela boa condução das atividades, por
seu planejamento, pela elaboração da pauta etc. ou, inversamente, por tudo de
errado e/ou improdutivo que pode acontecer em uma reunião.
Segundo Torres (2007), de certa forma
cada vez mais expropriado de seu saber, o professor tende a delegar aos
coordenadores o papel de especialistas em Educação e, portanto, de
profissionais mais indicados para realizarem as tarefas citadas. Quando a
reunião não lhe parece produtiva/construtiva, sua tendência é atribuir aos
outros a responsabilidade por isso.
Por outro lado, os coordenadores
pedagógicos registram, também de acordo com estudos realizados por Torres (op.
cit.), que as reuniões, normalmente, têm caráter remedial, são hierarquizadas
(tendo-os à frente) e contam com professores que mais ouvem do que falam
(portanto, que são pouco ou nada pró-ativos). Como também lhes falta tempo para
bem realizar todas as suas funções (das quais, inclusive, nem chegam a ter
clareza, em alguns casos), acabam por centrar suas preocupações “(...) mais na
modificação urgente de situações, na rápida resolução de problemas e na
prestação imediata de serviços” (Torres, 2007, p. 49) do que no adequado
planejamento de ações preventivas, de momentos de discussão e reflexão sobre a
prática docente que poderiam conduzir todos à construção de saberes coletivos
subsidiários de uma atuação profissional de melhor qualidade e mais adequada às
demandas postas no atual cenário sócio-histórico escolar.
Outra questão bastante importante para
ser vista refere-se ao próprio título da reunião que estamos a analisar:
reunião pedagógica. Comumente, essas reuniões têm início com a abordagem de
assuntos gerais relativos ao cotidiano escolar e mesmo aos órgãos gestores da
Educação, passam aos assuntos administrativos e, somente por fim, iniciam a
abordagem das questões propriamente pedagógicas da escola (planejamento do
trabalho educacional, metodologias utilizadas pelos professores, avaliação do
processo de ensinar e de aprender, fundamentos teóricos da prática educacional,
problemas de aprendizagem que estejam postos aos educadores, disciplina etc.).
Além de indicar a compartimentalização da reunião, afirma-nos Torres (2007) que
isso marca uma prática caracterizada pela ausência de visão dialética entre os
assuntos gerais, os administrativos e os pedagógicos que, na verdade vinculados
e interdependentes uns dos outros, dão forma ao fazer pedagógico em sua
plenitude.
As reuniões pedagógicas também tendem
a abordar muito mais os problemas, as dificuldades e os empecilhos ao bom
trabalho educacional escolar do que a compartilhar experiências docentes e
discentes de sucesso. Se assim acontece, o resultado acaba sendo a utilização
do tempo da reunião para que sejam buscadas alternativas de ação pragmáticas
por parte tanto dos coordenadores quanto dos professores; alternativas que
resolvam problemas imediatos, mas que não correspondem à construção coletiva de
saberes que poderiam ser utilizados para elevar tanto o nível de compreensão
dos educadores com relação aos fundamentos dos problemas encontrados em sua
prática profissional quanto sua visão acerca da amplitude de sua ação no
sentido de evitar a manifestação de outros problemas.
Diante disso,
então, pensemos em como revitalizar o diálogo e as ações dos educadores
profissionais para que, efetivamente, ampliem suas possibilidades e
vejam/utilizem o espaço-tempo das reuniões pedagógicas de maneira construtiva e
enriquecedora para todos: potencializando-o para reflexão e produção de saberes sobre a docência e por uma docência de melhor qualidade.
Superando assim a visão que normalmente se tem sobre as reuniões enquanto
momentos meramente burocráticos.
Para Bruno e Christov (2009),
inicialmente é preciso que o tempo das reuniões seja suficiente, de boa
qualidade e bem administrado tanto por quem as coordena (normalmente, o
coordenador pedagógico) quanto pelos próprios professores. Devem as reuniões,
ainda, ser remuneradas, realizadas em horário em que todos os professores
possam delas participar e contar com pauta clara e objetiva (que abarque as
necessidades docentes), além de boa comunicação entre todos os participantes.
Professores de uma mesma disciplina e também da mesma série devem ter a
oportunidade de se encontrar para trocarem experiências, refletirem de maneira
sistematizada sobre as questões que lhes são postas pela prática docente e,
sobretudo, construírem saberes que deem sustentação ao seu trabalho cotidiano.
O coordenador pedagógico, pensando no uso das
reuniões pedagógicas como valiosa oportunidade colaborativa para a formação
continuada dos professores (e de si próprio), como espaço interpessoal e
cognitivo e como significativa chance para a formação pessoal e profissional,
deve trabalhar no sentido de organizá-las com bom clima de confiança entre os
membros presentes para que estes, observando e expondo aspectos sobre sua
própria prática, sobre seus acertos, dificuldades, erros e êxitos, e também a
partir do registro de percepções, problemas, avanços, dúvidas e dificuldades
encontradas no cotidiano profissional, bem como de discussões coletivas e
sinceras sobre isso, possam ampliar a “leitura” reflexiva sobre o real e ter
mais elementos para construírem sua autonomia compreensiva e intelectual diante
do fazer pedagógico.
Para Kemmis (apud Christov),
“A reflexão não é um processo mecânico, nem
simplesmente um exercício criativo de construção de novas ideias. Antes, é uma
prática que exprime o nosso poder para reconstruir a vida social ao participar
na comunicação, na tomada de decisões e na ação social.” (Kemmis, apud
Christov, 2008, p. 11)
Considerando-se, ainda, que as reuniões devem ter
tempo de duração determinado, é também necessário que o coordenador pedagógico
as organize conforme objetivos previamente definidos: aprofundamento de um
tema, troca de experiências ou discussão de um caso específico. Cada um desses
objetivos levará o grupo a agir de uma maneira ou de outra. Avisos gerais,
distribuição de materiais e discussão sobre questões gerais da escola são
atividades que podem, segundo Torres (2007), ser feitas em outro momento e de
outra forma, deixando que as reuniões pedagógicas sejam, de fato, momentos
coletivos PEDAGÓGICOS para os educadores profissionais de uma escola.
Por fim, ao
coordenador pedagógico, enquanto líder das reuniões – mas não único responsável
por seu sucesso ou insucesso –, cumpre bem planejá-las (com base no que lhe é
posto pelo cotidiano educacional escolar) e conhecer e ensinar aos professores
dinâmicas para observação e registro e para o desenvolvimento da criatividade e
da percepção de si e do outro (este último quesito sendo essencial para que
tenham os professores maior respeito e compreensão em relação aos alunos, aos
seus colegas docentes e à equipe de dirigentes administrativos e pedagógicos da
unidade escolar).
Referência
BRUNO, E.B.G.; CHRISTOV, L.H.S. “Reuniões na
escola: oportunidade de comunicação e saber”. In: BRUNO, E.B.G.; ALMEIDA, L.R.; CHRISTOV, L.H.S. (orgs.). O
coordenador pedagógico e a formação docente. 10. ed. São Paulo: Loyola,
2009.
CHRISTOV, L.H.S. “Educação continuada: função
essencial do coordenador pedagógico. In: GUIMARÃES, A.A. et al. O
coordenador pedagógico e a educação continuada. 11. ed. São Paulo:
Loyola, 2008.
TORRES, S.R. “Reuniões pedagógicas: espaço de encontro
entre coordenadores e professores ou exigência burocrática?” In: O
coordenador pedagógico e o espaço da mudança. 6. ed. São Paulo: Loyola,
2007.