Arquivo do blog

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

REUNIÃO PEDAGÓGICA: PARA ALÉM DE MERA EXIGÊNCIA BUROCRÁTICA


      Valendo-se das reuniões pedagógicas como excelente espaço-tempo para encontro entre você [futuro(a) coordenador(a) pedagógico(a)] e os professores. Um espaço-tempo que pode e deve ser utilizado para a continuidade da formação dos educadores profissionais de uma escola.
Iniciemos refletindo sobre alguns problemas que são postos pelos coordenadores e pelos professores, via de regra, quando se veem em reuniões pedagógicas.
Em primeiro lugar, é preciso que pensemos que há uma tendência humana em culpabilizar o outro quando algo não acontece como desejamos/precisamos que aconteça. No caso de reuniões pedagógicas, muitos são os professores que, numa posição passiva, responsabilizam o coordenador pedagógico pela boa condução das atividades, por seu planejamento, pela elaboração da pauta etc. ou, inversamente, por tudo de errado e/ou improdutivo que pode acontecer em uma reunião.
Segundo Torres (2007), de certa forma cada vez mais expropriado de seu saber, o professor tende a delegar aos coordenadores o papel de especialistas em Educação e, portanto, de profissionais mais indicados para realizarem as tarefas citadas. Quando a reunião não lhe parece produtiva/construtiva, sua tendência é atribuir aos outros a responsabilidade por isso.
Por outro lado, os coordenadores pedagógicos registram, também de acordo com estudos realizados por Torres (op. cit.), que as reuniões, normalmente, têm caráter remedial, são hierarquizadas (tendo-os à frente) e contam com professores que mais ouvem do que falam (portanto, que são pouco ou nada pró-ativos). Como também lhes falta tempo para bem realizar todas as suas funções (das quais, inclusive, nem chegam a ter clareza, em alguns casos), acabam por centrar suas preocupações “(...) mais na modificação urgente de situações, na rápida resolução de problemas e na prestação imediata de serviços” (Torres, 2007, p. 49) do que no adequado planejamento de ações preventivas, de momentos de discussão e reflexão sobre a prática docente que poderiam conduzir todos à construção de saberes coletivos subsidiários de uma atuação profissional de melhor qualidade e mais adequada às demandas postas no atual cenário sócio-histórico escolar.
Outra questão bastante importante para ser vista refere-se ao próprio título da reunião que estamos a analisar: reunião pedagógica. Comumente, essas reuniões têm início com a abordagem de assuntos gerais relativos ao cotidiano escolar e mesmo aos órgãos gestores da Educação, passam aos assuntos administrativos e, somente por fim, iniciam a abordagem das questões propriamente pedagógicas da escola (planejamento do trabalho educacional, metodologias utilizadas pelos professores, avaliação do processo de ensinar e de aprender, fundamentos teóricos da prática educacional, problemas de aprendizagem que estejam postos aos educadores, disciplina etc.). Além de indicar a compartimentalização da reunião, afirma-nos Torres (2007) que isso marca uma prática caracterizada pela ausência de visão dialética entre os assuntos gerais, os administrativos e os pedagógicos que, na verdade vinculados e interdependentes uns dos outros, dão forma ao fazer pedagógico em sua plenitude.
As reuniões pedagógicas também tendem a abordar muito mais os problemas, as dificuldades e os empecilhos ao bom trabalho educacional escolar do que a compartilhar experiências docentes e discentes de sucesso. Se assim acontece, o resultado acaba sendo a utilização do tempo da reunião para que sejam buscadas alternativas de ação pragmáticas por parte tanto dos coordenadores quanto dos professores; alternativas que resolvam problemas imediatos, mas que não correspondem à construção coletiva de saberes que poderiam ser utilizados para elevar tanto o nível de compreensão dos educadores com relação aos fundamentos dos problemas encontrados em sua prática profissional quanto sua visão acerca da amplitude de sua ação no sentido de evitar a manifestação de outros problemas.
Diante disso, então, pensemos em como revitalizar o diálogo e as ações dos educadores profissionais para que, efetivamente, ampliem suas possibilidades e vejam/utilizem o espaço-tempo das reuniões pedagógicas de maneira construtiva e enriquecedora para todos: potencializando-o para reflexão e produção de saberes sobre a docência e por uma docência de melhor qualidade. Superando assim a visão que normalmente se tem sobre as reuniões enquanto momentos meramente burocráticos.
Para Bruno e Christov (2009), inicialmente é preciso que o tempo das reuniões seja suficiente, de boa qualidade e bem administrado tanto por quem as coordena (normalmente, o coordenador pedagógico) quanto pelos próprios professores. Devem as reuniões, ainda, ser remuneradas, realizadas em horário em que todos os professores possam delas participar e contar com pauta clara e objetiva (que abarque as necessidades docentes), além de boa comunicação entre todos os participantes. Professores de uma mesma disciplina e também da mesma série devem ter a oportunidade de se encontrar para trocarem experiências, refletirem de maneira sistematizada sobre as questões que lhes são postas pela prática docente e, sobretudo, construírem saberes que deem sustentação ao seu trabalho cotidiano.
O coordenador pedagógico, pensando no uso das reuniões pedagógicas como valiosa oportunidade colaborativa para a formação continuada dos professores (e de si próprio), como espaço interpessoal e cognitivo e como significativa chance para a formação pessoal e profissional, deve trabalhar no sentido de organizá-las com bom clima de confiança entre os membros presentes para que estes, observando e expondo aspectos sobre sua própria prática, sobre seus acertos, dificuldades, erros e êxitos, e também a partir do registro de percepções, problemas, avanços, dúvidas e dificuldades encontradas no cotidiano profissional, bem como de discussões coletivas e sinceras sobre isso, possam ampliar a “leitura” reflexiva sobre o real e ter mais elementos para construírem sua autonomia compreensiva e intelectual diante do fazer pedagógico.
Para Kemmis (apud Christov),

“A reflexão não é um processo mecânico, nem simplesmente um exercício criativo de construção de novas ideias. Antes, é uma prática que exprime o nosso poder para reconstruir a vida social ao participar na comunicação, na tomada de decisões e na ação social.” (Kemmis, apud Christov, 2008, p. 11)

Considerando-se, ainda, que as reuniões devem ter tempo de duração determinado, é também necessário que o coordenador pedagógico as organize conforme objetivos previamente definidos: aprofundamento de um tema, troca de experiências ou discussão de um caso específico. Cada um desses objetivos levará o grupo a agir de uma maneira ou de outra. Avisos gerais, distribuição de materiais e discussão sobre questões gerais da escola são atividades que podem, segundo Torres (2007), ser feitas em outro momento e de outra forma, deixando que as reuniões pedagógicas sejam, de fato, momentos coletivos PEDAGÓGICOS para os educadores profissionais de uma escola.
Por fim, ao coordenador pedagógico, enquanto líder das reuniões – mas não único responsável por seu sucesso ou insucesso –, cumpre bem planejá-las (com base no que lhe é posto pelo cotidiano educacional escolar) e conhecer e ensinar aos professores dinâmicas para observação e registro e para o desenvolvimento da criatividade e da percepção de si e do outro (este último quesito sendo essencial para que tenham os professores maior respeito e compreensão em relação aos alunos, aos seus colegas docentes e à equipe de dirigentes administrativos e pedagógicos da unidade escolar).
Referência
BRUNO, E.B.G.; CHRISTOV, L.H.S. “Reuniões na escola: oportunidade de comunicação e saber”. In: BRUNO, E.B.G.; ALMEIDA, L.R.; CHRISTOV, L.H.S. (orgs.). O coordenador pedagógico e a formação docente. 10. ed. São Paulo: Loyola, 2009.
CHRISTOV, L.H.S. “Educação continuada: função essencial do coordenador pedagógico. In: GUIMARÃES, A.A. et al. O coordenador pedagógico e a educação continuada. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2008.
TORRES, S.R. “Reuniões pedagógicas: espaço de encontro entre coordenadores e professores ou exigência burocrática?” In: O coordenador pedagógico e o espaço da mudança. 6. ed. São Paulo: Loyola, 2007.