“tenha em mente que tudo que você aprende na escola
é trabalho de muitas gerações. Receba essa herança, honre-a, acrescente a ela
e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos.”
Albert Einstein
Passaremos a estudar
grupos também como um meio pelo qual esses educadores podem se reunir em torno
da função última da escola, de democratizar o acesso de todos os membros de uma
sociedade aos saberes sistematizados, de tal forma que os utilizem para ter
vida e existência de melhor qualidade, decorrente do fato de lhes ser possível
uma leitura mais apurada do mundo). Esse meio pode ser utilizado por eles para
também tornarem-se melhor enquanto profissionais capazes de contribuir
ricamente para a formação de cidadãos que se percebam como co-responsáveis pela
sustentabilidade de nosso planeta.1
De acordo com Pichon-Riviere (apud
Freire, 1997), grupo corresponde a um conjunto de pessoas que são movidas por
necessidades semelhantes e que, por isso, se reúnem em torno de uma finalidade
específica. Ao cumprir suas tarefas, cada qual assume-se como participante de
um coletivo com princípios e objetivos comuns, mesmo reconhecendo as diferenças
que há entre eles.
Em um exercício de diferenciação rumo
à construção da identidade do grupo, cada sujeito que o compõe vai introjetando
o outro dentro de si mesmo, o que “(...) significa que cada pessoa, quando
longe da presença do outro, pode ‘chamá-lo’ em pensamento (...)” (Freire, 1997,
p. 17).
Além disso, como a identidade do
sujeito é um produto das relações com os outros (Freire, op. cit.), todos os
membros de um grupo estão povoados de outros grupos internos de sua história e
também por outros grupos externos que com eles compartilham dúvidas, conflitos,
prazeres e conquistas. E a influência desse grupo interno tende a permanecer
inconsciente, sem que consigamos nos dar conta de que nossas ações e reações
reproduzem estilos, valores e hábitos.
Nesse sentido, nosso ser individual é
o reflexo daquilo que observamos ter sido feito e dito por outras pessoas,
ainda que, conscientemente, não nos demos conta disso.
Para Davini (1997), no caso específico
do contexto escolar, o grupo contribui para que o professor, a partir do confronto
com o outro, aprenda o que é e o que não é; do que gosta e do que não gosta; o
que sabe, pensa e acredita. Por isso, o grupo precisa ser fixo, ter pauta
planejada para realizar suas ações e registro documentando a sua vida: dos
conteúdos, impasses e de sua dinâmica interna.
Grupo, segundo Fusari (s/d), remete-nos ao trabalho
coletivo. Remete-nos, portanto, à elaboração, desenvolvimento e avaliação
conjunta de uma adequada proposta educacional (adequada em relação à comunidade
escolar e às complexas exigências postas à escola pelo contexto
sócio-histórico); uma ação que tenha pontos de partida e de chegada comuns.
Em algumas escolas, é possível identificarmos grupos isolados, unidos em
torno de alguns ideais comuns quanto ao perfil de ser humano que desejam
contribuir para formar. É desejável, no entanto, que o grupo escolar como um
todo, composto por
“(...) diretores, coordenadores,
professores, funcionários, alunos, membros do Conselho de Escola e demais
representantes da comunidade – [tenha] um compromisso com a causa da
democratização da Educação Escolar no país, no Estado, no Município, e [atue]
com o objetivo de contribuir para assegurar o acesso do aluno à escola, sua
permanência nela e a melhoria da qualidade de ensino.”
(Fusari, s/d, p. 70)
Tal trabalho coletivo exige que os professores
atuem como pares (e não meramente como colegas), que a comunidade escolar
exercite o diálogo a respeito: a) das funções e condições de trabalho dos
professores; b) do papel da escola; c) das relações entre a escola e a
sociedade; d) dos objetivos, conteúdos, metodologia de trabalho e avaliação (da
aprendizagem e institucional). Isso tudo para identificar as correntes
pedagógicas a que se vinculam as visões, ações e reações de cada membro da
referida comunidade, considerando-se que há várias correntes em pauta no
cenário educacional escolar, por vezes antagônicas entre si.
E, para que haja coerência entre o
discurso e a prática pedagógica, é fundamental que se parta de uma coerência
teórica prévia, ou seja, de uma mesma corrente pedagógica, com valores,
crenças, ideais e propostas que caminhem em uma mesma direção.
O trabalho em grupo demanda, ainda,
clareza e visão articulada e profunda da situação da unidade escolar, de seus
problemas, das causas desses problemas e do contexto em que se manifestam. Essa
clareza é algo que se constrói; é, portanto e mais uma vez, fruto de um
processo de vida profissional engajado na busca de objetivos comuns, fruto de
um processo de planejamento (que deve ser também de médio e longo prazos – e
não somente de planejamento para implementação de medidas de curto prazo –,
apesar das incertezas postas pelas características político-econômicas de nosso
país).
Trabalhar em coletividade exige que os
membros da comunidade escolar: a) tenham disponibilidade para atuar em grupo;
b) desejo de mudar, crescer e transformar; c) desejo de participar do processo
de criação de uma nova escola e, no limite, de uma nova sociedade que dela
venha a ser fruto.
Como resultado, espera-se que também
seja possível “(...) distinguir o que é problema estrutural da sociedade e
penetra na escola do que é conjuntural, específico da infraestrutura escolar
(...)” (FUSARI, s/d, p. 71).
O “coletivo” da unidade escolar pode e
deve reforçar o “coletivo” do contexto social mais amplo (e vice-versa). Deve
visar à formação do CIDADÃO.
Ainda de acordo com Fusari (op. cit.),
você tem a seguir algumas questões que podem significar entraves para o
trabalho coletivo na escola (que não devem significar impedimento para que ele
se realize, mas sim aspectos para os quais você deverá reservar maior atenção
para que sejam tratados de maneira adequada e eliminados dos contextos
escolares que se pretendam, de fato, coletivos).
·
A sociedade brasileira (e a escola é parte dela) é
eminentemente marcada pelo individualismo, o que dificulta uma proposta de
trabalho em grupo.
·
Os cursos de formação de professores, via de regra,
não partem de um trabalho coletivo, articulado, mas sim fragmentado. Formados
dessa maneira, a tendência é que os professores também atuem de maneira
desarticulada e fragmentada.
·
Os órgãos gestores da Educação também não são
articulados e coerentes entre si, além de, em alguns casos, serem
contraditórios.
·
Há falta de professores nas escolas (sobretudo nas
escolas da rede pública), o que tende a gerar improvisações e atuações
emergenciais e, por consequência, a atrapalhar o efetivo trabalho coletivo.
·
Há grande rotatividade de professores e
funcionários do corpo técnico-educacional e do corpo administrativo das escolas
(fato que também obsta o trabalho em grupo, que demanda permanência e ação
contínua das pessoas, conforme registrado anteriormente).
·
Os professores têm poucos momentos formais
(previstos em calendário) para dialogar sobre sua prática profissional junto
aos colegas e refletir sobre ela em busca de alternativas de ação e construção
de saberes que aperfeiçoem seu fazer pedagógico.
·
Falta aos professores a vivência efetiva de
práticas interdisciplinares (necessárias à construção de uma visão de mundo que
priorize o coletivo em detrimento do individual e compartimentalizado).
Não há,
portanto, tradição de trabalho coletivo nas escolas.
Isso posto,
cabe novamente a você refletir sobre como poderá e deverá atuar quando ocupar
um cargo na coordenação pedagógica de uma escola para que haja, de fato, o
desejado trabalho em grupo, tão importante para a construção de uma sociedade
democrática.
Referência
DAVINI, J. “Um grupo”. In: FREIRE, M.; DAVINI,
F.C.; MARTINS, M.C. Grupo.
Indivíduo, saber e parceria: malhas do conhecimento. São Paulo: Espaço
Pedagógico, 1997.
FREIRE, M.; DAVINI, F.C.; MARTINS, M.C. Grupo. Indivíduo, saber e parceria:
malhas do conhecimento. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1997.
FUSARI, J.C. “A construção da proposta educacional e do trabalho
coletivo na unidade escolar”. Disponível em:
<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/prp_a.php?t=006>. Acesso em: 5 jul
2010.