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sexta-feira, 18 de julho de 2014

BULLYNG NAS ESCOLAS


Existe uma grande variedade de definições para a palavra bullying, mas pode-se dizer que o termo se refere à exposição repetida a ações propositais que ferem ou prejudicam o indivíduo, caracterizando-se, principalmente, pela disparidade de poder entre os pares, de modo que uma pessoa é dominada por outra. Portanto, o desequilíbrio de poder e as atitudes negativas e repetidas entre iguais constituem as principais características que viabilizam a intimidação do alvo (Lopes Neto, 2005). Esses atos podem ser cometidos por meio de agressão verbal ou física, ou por meio de exclusão de um grupo (Lopes Neto, 2005; Olweus, 1993). Determinadas características de um indivíduo podem torná-lo uma vítima potencial de bullying, tais como etnia, orientação sexual, diferença de idade e tamanho (Dawkins, 1995; Smith, 2002).
O fenômeno de bullying é, atualmente, uma das formas mais recorrentes de violência na escola (Batsche, 1997). É importante destacar que as situações de bullying ocorrem em diversos contextos, sem restrição quanto ao nível socioeconômico, gênero ou faixa etária, sendo observadas em escolas públicas e privadas (Crothers e Levinson, 2004; Olweus, 1977, 1993). Diante do progressivo aumento dos casos de agressão observados no ambiente escolar e das graves consequências sociais que acarretam ao sistema educacional brasileiro, diversos estudos têm investigado o bullying entre estudantes do ensino fundamental e médio, bem como na população universitária (Bond et al., 2007; Carlyle e Steinman, 2007; Chapell et al., 2006; Glew et al., 2008; Kim et al., 2006; Pit on, 2006).
Além das diferentes definições encontradas para o termo bullying, há também formas distintas de classificá-lo. Assim, esse fenômeno pode ser qualificado quanto ao tipo de ato violento que é empreendido, diferenciando-se entre direto e indireto. O bullying direto, tanto físico como verbal, inclui agressão física, abuso sexual, roubo ou deterioração de objetos de outra pessoa, extorsão, insultos, apelidos e comentários racistas. A forma de bullyingin direto, por sua vez, compreende a exclusão de uma pessoa do grupo, fofocas e apelidos que marginalizam o outro e qualquer outro tipo de manipulação cometida por um indivíduo ou um grupo contra outro (Olweus, 1993; Smith e Sharp, 1995).
Outra forma de classificação do bullying é em relação à função assumida pelos participantes, que podem ser vítimas, agressores, vítimas/agressores ou testemunhas (Dawkins, 1995). As vítimas ou alvos são os indivíduos expostos a ações perpetradas por outro(s), de forma repetida e durante um determinado período. Essas pessoas, em geral, são inseguras, pouco sociáveis e não dispõem de recursos para reagir à violência ou interrompê-la (Carney e Merrell, 2001; Dawkins, 1995; Pearce e Thompson, 1998). Os agressores, por sua vez, tendem a ser pessoas populares e dominadoras em relação aos seus alvos, além de envolverem-se em comportamentos antissociais (Chesson, 1999; Pearce e Thompson, 1998). Alguns aspectos como condições familiares adversas, maus-tratos, excesso de permissividade dos pais e mesmo fatores individuais (impulsividade, hiperatividade,déficit de atenção, baixo desempenho escolar) podem explicar as atitudes praticadas pelos perpetradores da violência (Dawkins, 1995; Eslea e Rees, 2001). Cerca de 20% dos indivíduos envolvidos em situações de bullying podem representar tanto o papel de vítimas como de agressores, dependendo do contexto em que se encontram. Essa dupla função pode ser justificada pela combinação de atitudes agressivas e uma baixa autoestima (Kaltiala-Heino et al., 1999; Kumpulainen et al., 2001). As testemunhas, por fim, são pessoas que não se envolvem diretamente em situações de bullying, mas assistem passivamente à violência cometida e se calam por medo, acobertando os agressores e contribuindo para a continuidade desses atos (Dawkins, 1995; Lopes Neto, 2005).
O bullying é uma preocupação universal, visto o grande número de trabalhos realizados no mundo todo, em países como Austrália, Holanda, Estados Unidos, Portugal e Coreia (Bond et al., 2007; Camodeca e Goossens, 2005; Carlyle e Steinman, 2007; Martins, 2005; Yang et al. 2006). No Brasil, as pesquisas sobre vitimização e comportamentos violentos na escola são recentes (Silva e Löhr, 2001). A falta de trabalhos sobre esse tema cria uma discussão a respeito da incidência do bullying, pois é difícil identificar se a prevalência desse fenômeno realmente está aumentando ou se foi o interesse social acerca do sistema escolar que gerou mais pesquisas e visibilidade. Dessa forma, há desacordo nos achados de pesquisas anteriores quanto à prevalência do bullying na escola, variando de 21% (Chapell et al., 2006) a 40% (Lopes Neto e Saavedra, 2003). Esses resultados incluem tanto comportamentos de agressividade como de vitimização.
A literatura aponta para diferenças entre os sexos na manifestação de comportamentos que envolvem bullying. Os meninos tendem a envolver-se mais em situações de bullying, tanto como autores quanto como alvos (Farrington, 1993; Lopes Neto, 2005; Olweus, 1994). Entre as meninas, o bullying também ocorre, embora com menor frequência, principalmente sob a forma de agressão indireta, que envolve exclusão social e difamação dos pares (Lopes Neto, 2005; Olweus, 1997). Esses resultados correspondem aos encontrados na literatura acerca da agressão, sugerindo que os meninos utilizam mais agressividade direta, sendo ela verbal ou física (Björkqvist, 1994; Björkqvist e Niemelä, 1992), enquanto as meninas, por sua vez, apresentam costumeiramente formas de agressividade social ou relacional (Olweus, 1997).
Em relação à idade em que o bullying ocorre mais frequentemente, alguns estudos verificaram que esse fenômeno parece atingir seu pico na faixa etária entre nove e 15 anos (Carney e Merrell, 2001; Frisén et al., 2007). As vítimas, em geral, possuem determinadas características que as fragilizam ante o agressor. Desse modo, as crianças mais novas podem ser alvos de outras crianças mais velhas. Outros indivíduos tornam-se vítimas por serem fracos fisicamente ou possuírem alguma característica percebida como negativa ou algo que os diferencie do grupo de iguais (Eslea e Rees, 2001). Olweus (1993) também constatou que a porcentagem dos indivíduos que relatam a vitimização declina gradualmente com o passar da idade. É menos provável a ocorrência de agressões físicas para aqueles com a idade mais avançada e que continuam em processo de vitimização na escola. Smith et al. (1999) inferiram que o bullying tende a cessar na maioria dos casos com o passar dos anos, porque os sujeitos que outrora eram vítimas vão adquirindo, gradualmente, habilidades sociais e, assim, aumentando sua autoestima (Frisén et al., 2007).

O bullying é considerado um estressor social crônico, que pode ocasionar diversos problemas para a vida do indivíduo, como depressão, ansiedade, estresse e baixa autoestima (Hamilton et al., 2008; Lund et al., 2008; Van der Wal et al., 2003). Esses efeitos decorrentes da violência direta ou indireta entre pares na infância trazem, muitas vezes, consequências para a vida adulta da pessoa que foi uma vítima crônica de bullying.

BIBIOGRAFIA
http://pepsic.bvsalud.org , pesquisado em 17/072014 AS 14H10M