Existe
uma grande variedade de definições para a palavra bullying, mas pode-se
dizer que o termo se refere à exposição repetida a ações propositais que ferem
ou prejudicam o indivíduo, caracterizando-se, principalmente, pela disparidade
de poder entre os pares, de modo que uma pessoa é dominada por outra. Portanto,
o desequilíbrio de poder e as atitudes negativas e repetidas entre iguais
constituem as principais características que viabilizam a intimidação do alvo
(Lopes Neto, 2005). Esses atos podem ser cometidos por meio de agressão verbal
ou física, ou por meio de exclusão de um grupo (Lopes Neto, 2005; Olweus,
1993). Determinadas características de um indivíduo podem torná-lo uma vítima
potencial de bullying, tais como etnia, orientação sexual, diferença de
idade e tamanho (Dawkins, 1995; Smith, 2002).
O
fenômeno de bullying é, atualmente, uma das formas mais recorrentes
de violência na escola (Batsche, 1997). É importante destacar que as situações
de bullying ocorrem em diversos contextos, sem restrição quanto ao
nível socioeconômico, gênero ou faixa etária, sendo observadas em escolas
públicas e privadas (Crothers e Levinson, 2004; Olweus, 1977, 1993). Diante do
progressivo aumento dos casos de agressão observados no ambiente escolar e das
graves consequências sociais que acarretam ao sistema educacional brasileiro,
diversos estudos têm investigado o bullying entre estudantes do
ensino fundamental e médio, bem como na população universitária (Bond et
al., 2007; Carlyle e Steinman, 2007; Chapell et al., 2006; Glew et
al., 2008; Kim et al., 2006; Pit on, 2006).
Além
das diferentes definições encontradas para o termo bullying, há também
formas distintas de classificá-lo. Assim, esse fenômeno pode ser qualificado
quanto ao tipo de ato violento que é empreendido, diferenciando-se entre direto
e indireto. O bullying direto, tanto físico como verbal, inclui
agressão física, abuso sexual, roubo ou deterioração de objetos de outra
pessoa, extorsão, insultos, apelidos e comentários racistas. A forma de bullyingin
direto, por sua vez, compreende a exclusão de uma pessoa do grupo, fofocas e
apelidos que marginalizam o outro e qualquer outro tipo de manipulação cometida
por um indivíduo ou um grupo contra outro (Olweus, 1993; Smith e Sharp, 1995).
Outra
forma de classificação do bullying é em relação à função assumida
pelos participantes, que podem ser vítimas, agressores, vítimas/agressores ou
testemunhas (Dawkins, 1995). As vítimas ou alvos são os indivíduos expostos a
ações perpetradas por outro(s), de forma repetida e durante um determinado
período. Essas pessoas, em geral, são inseguras, pouco sociáveis e não dispõem
de recursos para reagir à violência ou interrompê-la (Carney e Merrell, 2001;
Dawkins, 1995; Pearce e Thompson, 1998). Os agressores, por sua vez, tendem a
ser pessoas populares e dominadoras em relação aos seus alvos, além de
envolverem-se em comportamentos antissociais (Chesson, 1999; Pearce e Thompson,
1998). Alguns aspectos como condições familiares adversas, maus-tratos, excesso
de permissividade dos pais e mesmo fatores individuais (impulsividade,
hiperatividade,déficit de atenção, baixo desempenho escolar) podem
explicar as atitudes praticadas pelos perpetradores da violência (Dawkins,
1995; Eslea e Rees, 2001). Cerca de 20% dos indivíduos envolvidos em situações
de bullying podem representar tanto o papel de vítimas como de agressores,
dependendo do contexto em que se encontram. Essa dupla função pode ser
justificada pela combinação de atitudes agressivas e uma baixa autoestima
(Kaltiala-Heino et al., 1999; Kumpulainen et al., 2001). As
testemunhas, por fim, são pessoas que não se envolvem diretamente em situações
de bullying, mas assistem passivamente à violência cometida e se calam por
medo, acobertando os agressores e contribuindo para a continuidade desses atos
(Dawkins, 1995; Lopes Neto, 2005).
O bullying é
uma preocupação universal, visto o grande número de trabalhos realizados no
mundo todo, em países como Austrália, Holanda, Estados Unidos, Portugal e
Coreia (Bond et al., 2007; Camodeca e Goossens, 2005; Carlyle e Steinman,
2007; Martins, 2005; Yang et al. 2006). No Brasil, as pesquisas sobre
vitimização e comportamentos violentos na escola são recentes (Silva e Löhr,
2001). A falta de trabalhos sobre esse tema cria uma discussão a respeito da
incidência do bullying, pois é difícil identificar se a prevalência desse
fenômeno realmente está aumentando ou se foi o interesse social acerca do
sistema escolar que gerou mais pesquisas e visibilidade. Dessa forma, há
desacordo nos achados de pesquisas anteriores quanto à prevalência do bullying na
escola, variando de 21% (Chapell et al., 2006) a 40% (Lopes Neto e
Saavedra, 2003). Esses resultados incluem tanto comportamentos de agressividade
como de vitimização.
A
literatura aponta para diferenças entre os sexos na manifestação de comportamentos
que envolvem bullying. Os meninos tendem a envolver-se mais em situações
de bullying, tanto como autores quanto como alvos (Farrington, 1993; Lopes
Neto, 2005; Olweus, 1994). Entre as meninas, o bullying também
ocorre, embora com menor frequência, principalmente sob a forma de agressão
indireta, que envolve exclusão social e difamação dos pares (Lopes Neto, 2005;
Olweus, 1997). Esses resultados correspondem aos encontrados na literatura
acerca da agressão, sugerindo que os meninos utilizam mais agressividade
direta, sendo ela verbal ou física (Björkqvist, 1994; Björkqvist e Niemelä,
1992), enquanto as meninas, por sua vez, apresentam costumeiramente formas de
agressividade social ou relacional (Olweus, 1997).
Em
relação à idade em que o bullying ocorre mais frequentemente, alguns
estudos verificaram que esse fenômeno parece atingir seu pico na faixa etária
entre nove e 15 anos (Carney e Merrell, 2001; Frisén et al., 2007).
As vítimas, em geral, possuem determinadas características que as fragilizam ante
o agressor. Desse modo, as crianças mais novas podem ser alvos de outras
crianças mais velhas. Outros indivíduos tornam-se vítimas por serem fracos
fisicamente ou possuírem alguma característica percebida como negativa ou algo
que os diferencie do grupo de iguais (Eslea e Rees, 2001). Olweus (1993) também
constatou que a porcentagem dos indivíduos que relatam a vitimização declina
gradualmente com o passar da idade. É menos provável a ocorrência de agressões
físicas para aqueles com a idade mais avançada e que continuam em processo de
vitimização na escola. Smith et al. (1999) inferiram que o bullying tende
a cessar na maioria dos casos com o passar dos anos, porque os sujeitos que
outrora eram vítimas vão adquirindo, gradualmente, habilidades sociais e,
assim, aumentando sua autoestima (Frisén et al., 2007).
O
bullying é considerado um estressor social crônico, que pode ocasionar
diversos problemas para a vida do indivíduo, como depressão, ansiedade,
estresse e baixa autoestima (Hamilton et al., 2008; Lund et al.,
2008; Van der Wal et al., 2003). Esses efeitos decorrentes da violência
direta ou indireta entre pares na infância trazem, muitas vezes, consequências
para a vida adulta da pessoa que foi uma vítima crônica de bullying.
BIBIOGRAFIA
http://pepsic.bvsalud.org
, pesquisado em 17/072014 AS 14H10M